terça-feira, 22 de março de 2011

Crianças alfabetizadas até o3° ano/9

 

Apenas seis em dez crianças
são alfabetizadas até os nove anos

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Apenas 58,1% das crianças de nove anos concluíram o 3º ano (2ª série), mostra levantamento da ONG Todos Pela Educação
 
 
Uma pesquisa da ONG Todos Pela Educação divulgada nesta quarta-feira (1º) mostra que apenas 58,1% das crianças de nove anos concluíram o 3º ano (2ª série).
Em teoria, aos oito anos a criança deve estar cursando essa turma, mas a entidade considera na classe correta aqueles que têm um ano a mais. É uma espécie de “extra” para levar em conta os estudantes que fazem aniversário em diferentes épocas do ano letivo.
A alfabetização até os oito anos de idade é uma das metas da Todos Pela Educação. No entanto, a pesquisa cita a inexistência de instrumentos de avaliação - como uma prova específica para esse grupo – para verificar a alfabetização das crianças nessa faixa etária. Isso prejudica a medição do nível de conhecimento desses estudantes, diz a ONG.
Quando consideradas as crianças que completam o 3º ano até os dez anos de idade, o percentual sobe para 84,2%. Ou seja: 15,8% dos estudantes da segunda série (3º ano do fundamental) têm 11 anos ou mais.
Sul x Nordeste
O estudo mostra também que as diferenças entre os Estados pode ser grande. O Paraná tem a maior taxa de conclusão aos nove anos (79,5%) e Santa Catarina, aos dez (95,1%).
A Paraíba contabiliza o menor percentual em ambos os casos. Apenas 40% dos alunos concluem esta série escolar aos nove anos, e 67,6%, aos dez. Isso significa que o atraso neste Estado é grande, pois muitos alunos do 3º ano do fundamental têm mais que 11 anos de idade.
Para a secretária de educação básica do Ministério da Educação, Maria Pilar Dallari, essas diferenças se dão, principalmente, por causa da economia e do nível de vida dos Estados.
- Não podemos negar que a diferença entre os índices de alfabetização da Paraíba e do Paraná têm relação com as condições socioeconômicos dos Estados e o contexto histórico dos dois.
Ela afirma também que a renda familiar influencia no nível educacional.
- No Paraná, assim como nos Estados do sul do país, existe uma cultura educacional de gerações. Uma criança que come melhor, dorme melhor, vai ter um desempenho melhor na escola.
Renda familiar
A Todos Pela Educação mostra que a taxa de alfabetização na idade adequada cai conforme menor o rendimento familiar.
Somente 43,9% das crianças de famílias com rendimento de até um quarto de salário mínimo per capita (R$ 127/ família) concluíram o 3º ano (2ª série) aos nove anos e 71,3% aos dez.
Nas famílias com mais de cinco salários mínimos de rendimento (R$ 2.550), a taxa de alfabetização na idade correta sobe para 80,4% aos nove anos e para 96,2% aos dez.
Percentual de crianças de 9 e 10 anos que concluíram o 3º ano
(2ª série) do ensino fundamental (%)

Brasil e regiõesCrianças de 9 anosCrianças de 10 anos
Brasil58,184,2
Norte52,277,4
Rondônia65,582
Acre70,281,9
Amazônia42,977,7
Roraima66,179 ,5
Pará47,373,8
Amapá75,889,6
Tocantins62,184
Nordeste53,879
Maranhão55,674,8
Piauí47,874,6
Ceará6084,8
Rio Grande do Norte58,682,5
Paraíba4067,6
Pernambuco57,480
Alagoas4185,8
Sergipe52,179,8
Bahia53,878,6
Sudeste56,787,5
Minas Gerais44,281,7
Espirito Santo54,186
Rio de Janeiro40,978,2
São Paulo69,393,9
Sul74,891
Paraná79,591,3
Santa Catarina72,395,1
Rio Grande do Sul72, 188,1
Centro - Oeste61,786,6
Mato Grosso do Sul67,486,3
Mato Grosso54,988,4
Goiás63,985,9
Distrito Federal58,586,8
Obs: Idade escolar definida por nove anos/dez anos completos em 30 de junho.
Fonte: Pnad, IBGE/ Tabulação Todos Pela Educação

domingo, 13 de março de 2011

Letra do fôrma ou cursiva?

Por que as crianças devem aprender a escrever com letra de fôrma para depois passar para a cursiva?


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Esta escolha está relacionada ao processo de construção das hipóteses da escrita. Durante a alfabetização inicial, os pequenos trabalham pensando quais e quantas letras são necessárias para escrever as palavras. As letras de fôrma maiúsculas são as ideais para essa tarefa, já que são caracteres isolados e com traçado simples - diferentemente das cursivas, emendadas umas às outras. O aprendizado das chamadas "letras de mão" deve ser trabalhado com crianças alfabéticas, que já têm a lógica do sistema de escrita organizada. Antes de estarem alfabetizadas, elas entram em contato naturalmente com as letras cursivas e as de fôrma minúscula e até podem ser apresentadas a elas, desde que tal contato fique restrito à leitura.

Devemos ou não ensinar a letra cursiva?

Ensino da letra cursiva para crianças em alfabetização divide a opinião de educadores

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HÉLIO SCHWARTSMAN
articulista da Folha

Deve-se ou não exigir que as crianças escrevam com letra cursiva? A questão, que divide educadores e semeia insegurança entre pais, está --ao lado da pergunta sobre o ensino da tabuada-- entre as mais ouvidas pela consultora em educação e pesquisadora em neurociência Elvira Souza Lima. A resposta, porém, não é trivial.
Quem tem letra feia pode ter de trocar a de mão pela de forma
Quatro ou cinco décadas atrás, a dúvida seria inconcebível. Escrever à mão era só em cursiva e, para garantir que a letra fosse legível, os alunos eram obrigados desde cedo a passar horas e horas debruçados sobre os cadernos de caligrafia.

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
A profesora Silvana D'Ambrosio, do colégio Sion, na cidade de São Paulo, ajuda o aluno Mateus Yoona fazer letra cursiva
A profesora Silvana D'Ambrosio, do colégio Sion, na cidade de São Paulo, ajuda o aluno Mateus Yoona fazer letra cursiva

Veio, contudo, a pedagogia moderna, em grande parte inspirada no construtivismo de Piaget, e as coisas começaram a mudar. O que importava era que o aluno descobrisse por si próprio os caminhos para a alfabetização e a escrita proficiente. Primeiro os professores deixaram de cobrar aquele desenho perfeito. Alguns até toleravam que o aluno levantasse o lápis no meio do traçado. Depois os cadernos de caligrafia foram caindo em desuso até quase desaparecer.
O segundo golpe contra a cursiva veio na forma de tecnologia. A disseminação dos computadores contribuiu para que a letra de imprensa, já preponderante, avançasse ainda mais. Manuscrever foi-se tornando um ato cada vez mais raro.
No que parece ser o mais perto de um consenso a que é possível chegar, hoje a maior parte das escolas do Brasil inicia o processo de alfabetização usando apenas a letra de forma, também chamada de bastão.
Tal preferência, como explica Magda Soares, professora emérita da Faculdade de Educação da UFMG, tem razões de desenvolvimento cognitivo, linguístico: "No momento em que a criança está descobrindo as letras e suas correspondências com fonemas, é importante que cada letra mantenha sua individualidade, o que não acontece com a escrita "emendada' que é a cursiva; daí o uso exclusivo da letra de imprensa, cujos traços são mais fáceis para a criança grafar, na fase em que ainda está desenvolvendo suas habilidades motoras".
O que os críticos da cursiva se perguntam é: se essa tipologia é cada vez menos usada e exige um boa dose de esforço para ser assimilada, por que perder tempo com ela? Por que não ensinar as crianças apenas a reconhecê-la e deixar que escrevam como preferirem? Essa é a posição do linguista Carlos Alberto Faraco, da Universidade Federal do Paraná, para quem a cursiva se mantém "por pura tradição". "E você sabe que a escola é cheia de mil regras sem qualquer sentido", acrescenta.
A pedagoga Juliana Storino, que coordena um bem-sucedido programa de alfabetização em Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte, é ainda mais radical: "Acho que ela [a cursiva] é uma das responsáveis pelo analfabetismo em nosso país. As crianças além de decodificar o código da língua escrita (relação fonema/ grafema) têm também de desenvolver habilidades motoras específicas para "bordar' as letras. O tempo perdido tanto pelo aluno, como pelo professor com essa prática, aliada ao cansaço muscular, desmotivam o aluno a aprender a ler e muitas vezes emperram o processo".
Esse diagnóstico, entretanto, está longe de unânime. O educador João Batista Oliveira, especialista em alfabetização, diz que a prática da caligrafia é importante para tornar a escrita mais fluente, o que é essencial para o aluno escrever "em tempo real" e, assim, acompanhar a escola. E por que letra cursiva? "Jabuti não sobe em árvore: é a forma que a humanidade encontrou, ao longo do tempo, de aperfeiçoar essa arte", diz.
Magda Soares acrescenta que a demanda pela cursiva frequentemente parte das próprias crianças, que se mostram ansiosas para começar a escrever com esse tipo de letra. "Penso que isso se deve ao fato de que veem os adultos escrevendo com letra cursiva, nos usos quotidianos, e não com letras de imprensa".
Para Elvira Souza Lima, que prefere não tomar partido na controvérsia, "os processos de desenvolvimento na infância criam a possibilidade da escrita cursiva". A pesquisadora explica que crianças desenhando formas geométricas, curvas e ângulos são um sério candidato a universal humano. Recrutar essa predisposição inata para ensinar a cursiva não constitui, na maioria dos casos, um problema. Trata-se antes de uma opção pedagógica e cultural.
Souza Lima, entretanto, lança dois alertas. O tempo dedicado a tarefas complementares como a cópia de textos e exercícios de caligrafia não deve exceder 15% da carga horária. No Brasil, frequentemente, elas ocupam bem mais do que isso.
Ainda mais importante, não se deve antecipar o processo de ensino da escrita. Se se exigir da criança que comece a escrever antes de ela ter a maturidade cognitiva e motora necessárias (que costumam surgir em torno dos sete anos) o resultado tende a ser frustração, o que pode comprometer o sucesso escolar no futuro.
O que a ciência tem a dizer sobre isso? Embora o processo de alfabetização venha recebendo grande atenção da neurociência, estudos sobre a escrita são bem mais raros, de modo que não há evidências suficientes seja para decretar a morte da cursiva, seja para clamar por sua sobrevida.
Há neurocientistas, como o canadense Norman Doidge, que sustentam que a escrita cursiva, por exigir maior esforço de integração entre áreas simbólicas e motoras do cérebro, é mais eficiente do que a letra de forma para ajudar a criança a adquirir fluência.
Outra corrente de pesquisadores, entretanto, afirma que, se a cursiva desaparecer, as habilidades cognitivas específicas serão substituídas por novas, sem maiores traumas.